segunda-feira, 18 de julho de 2011

Loja de arte da Sophia

Ontem o meu pai me deu uma ideia para ganhar 30 dólares, vendendo as molduras que tinham sobrado de uma exposição que ele fez. Ele sugeriu cobrar 5 dólares cada uma e disse que o dinheiro seria 100% meu. Quando contei a minha mãe a ideia, ela sugeriu que eu colocasse os meus desenhos nas molduras, vendendo as molduras com desenhos e outros desenhos sem moldura. 


Sábado de manhã montei essa garage sale com a ajuda dos meus pais. Fomos para a esquina da rua do meu prédio e colocamos os quadros pequenos enfileirados embaixo da vitrine do banco que fica ali. O desenho grande que fiz, coloquei atrás da cadeira onde fiquei desenhando.

No começo, recebi dois elogios. Depois chegou uma mulher que gostou muito e perguntou se eu tinha desenhos de cachorros – as pessoas de Toronto amam cachorros. Eu disse que não, mas que podia fazer ali mesmo. Ela me mostrou uma foto dos dois cachorrinhos dela, eles estavam usando tiaras de chifres de renas de papai Noel no dia de Natal, bem engraçado. Daí ela foi comprar um café e disse que voltaria em meia hora para pegar o desenho emoldurado. Peguei o celular e liguei para o meu pai trazer meu kit de aquarela e água. Fiz o desenho rapidinho, deixei para secar e coloquei na moldura com a ajuda do meu pai. Quando ela voltou, adorou a pintura e me pagou os 5 dólares.

Daí uma das nossas vizinhas e o dono do apartamento onde moramos apareceram. Os dois gostaram muito do meu trabalho. A vizinha comprou o desenho de uma garota cantando sozinha no quarto. Ela não levou o quadro, mas disse que voltaria logo para pegar. O proprietário do nosso apartamento também disse que ia voltar mais tarde para escolher um quadro.

Daí, apesar de já ter vendido dois quadros, comecei a ficar triste. Ninguém tinha ao menos elogiado o meu desenho favorito, da personagem Maria Sangrenta dentro do espelho. Essa é a minha terceira versão dessa imagem. Eu gosto muito dela, pois tem tensão, provoca medo. Eu fiz todo o desenho na noite anterior à exposição, quando tive insônia, usando lápis e a técnica de esfumato. Essa manhã dei os últimos retoque naquela que considero a minha melhor obra: Maria Sangrenta no espelho.

Bem, a minha tristeza não durou muito. Logo apareceu uma garota com estilo gótico, com pírcingue e tudo. Ela gostou de um dos meu trabalhos mais terroríficos, que tem uma vampira. Comentei com ela que também fazia trabalhos por encomenda e ela me pediu um desenho mais terrorífico ainda, dizendo que ia voltar logo depois de fazer o cabelo no salão. Comecei logo a trabalhar em um desenho de uma vampira usando roupa azul escuro, sufocando uma garota de camisola vermelha e sugando o sangue da menina. A cena acontecia num quarto com a janela aberta, a cortina se movendo ao vento e aparecendo uma bela vista do céu com lua cheia. Mas a garota gótica demorou a voltar para pegar.

Foi então que resolvi selecionar outras obras do meu bloco para colocar à venda. Uma mostrava uma mão tirando foto de 5 garotas que estavam ao redora de de um casal, num banco, tendo ao fundo um orfanato enorme sustentado por pilastras de madeira, apoiadas numa cachoeira.

Meia hora, ou talvez uma hora depois, a gótica voltou. Ela disse que não queria a moldura, apenas a pintura. Daí pensei que iria lucrar menos, pois achei que ela me pagaria apenas 2 dólar pela obra sem moldura. Quando ela estava pegando a pintura, viu a obra do orfanato e pediu para eu colocar aquela na moldura porque queria levá-la também. Melhor ainda, ela quis me pagar 10 dólares pelas duas obras, mesmo estando uma sem moldura!

Depois o dia ficou meio lento. Já eram 2 hs. da tarde e eu estava ali desde às 11 da manhã. Então, o dono do nosso apartamento voltou para comprar uma obra. Ele me pediu para contar a história de cada uma das obras. Os que não tinha história, eu inventei uma na hora mesmo. Daí ele escolheu exatamente a obra que a vizinha já tinha comprado, apesar de não ter levado! Eu tive que explicar isso e ele fez uma cara de surpreso. Mas ele escolheu outra obra, de uma garota loira deitada em uma colina, tendo um lago de um lado e um pôr do sol do outro. Ele me perguntou quanto era e eu disse 5 dólares. Mas ele quis me pagar 20 por ter gostado muito do trabalho. Legal!

Total das vendas: 45 dólares! 

Acho bem legal que as pessoas em Toronto costumam vender as coisas que não querem mais na garagem ou na frente de suas casas aos sábados. Você pode encontrar de tudo numa garage sale! Assim, as coisas são reutilizadas e reaproveitadas por outros. Eu nunca vi isso no Brasil e acho que poderia ter, não acham?

Um comentário:

  1. Adorei este texto. Eu também gostava muito de desenhar e pintar quando criança. E adorava meus próprios trabalhos. Pena que os perdi.

    Também acho que seria uma boa ter a cultura do garage sale no Brasil.

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